José Carlos Veronezzi

Internet – Nasceu queimando etapas

Os chamados meios de comunicação tradicionais sofreram todo um demora do processo até se consolidarem como tais. De Gutenberg aos jornais e revistas  em cores passaram-se séculos. O cinema levou vários anos até ter som e cores. Da  descoberta do eletromagnetismo em 1865, até sua aplicação como rádio, passaram-se 40 anos. A televisão, inventada em 1926, só em 1951 – após 25 anos  passou a ter cor, embora com baixa qualidade de definição e restrita às elites. Já a  internet levou menos de dez anos, da sua disponibilidade pública em 1980, nos EUA, e ainda chamada de Arpanet à sua popularização em 1990.

Não há um consenso se a internet é mais um meio, a soma de todos os outros, algo totalmente novo ou se no futuro só haverá lugar para ela! Para tentar responder a tudo isso, precisamos antes, esmiuçar um pouco mais como se deu a consolidação dos meios tradicionais versus internet. O que mais contribuiu para os meios tradicionais deixarem de ser consumidos apenas por uma parcela da população e transformarem-se em fortes canais de mídia e publicidade, foi o constante – embora lento – desenvolvimento tecnológico ocorrido entre 1450, com a primeira, e rudimentar impressora gráfica, e fins de 1960, quando jornal, revista, TV, rádio e cinema já tinham grande penetração nas populações do primeiro mundo e, formas físicas externas muito semelhantes às de hoje.

A tecnologia foi a causa. Através da progressiva criação de novas máquinas e processos que diminuíram muito o tempo de produção do conteúdo, formato e transmissão dos veículos, possibilitando assim um barateamento de custo, necessário para que esses meios passassem a atingir milhares de pessoas e se transformassem no que se convencionou chamar de meios de comunicação de massa. E isso atraiu anúncios. E com e1es, um grande incremento nas receitas. Com mais faturamento os veículos passaram a fornecer mais e melhores benefícios a seus públicos, na forma de informações e entretenimento (a homogeneização cultural acabou fundindo-as em uma espécie de “infornimento”), e a concorrência para a conquista de mais leitores e audiências fez com que precisassem ser cada vez mais atrativos, recorrendo à tecnologia e o ciclo recomeçável.

Com a Internet isso não aconteceu, porque, ao nascer, ela queimou todas as etapas, pois já contava com todos os recursos intrínsecos dos outros meios texto, imagem, som e movimento e já estava apoiada na tecnologia e no barateamento da economia de escala dos Chips, impulsos telefônicos a preço local micros que a cada ano diminuem de preço e anunciantes receptivos e com verbas para investirem nesse novo “meio”.

Um novo meio ou a convergência de todos?

Talvez a internet não seja um novo meio, e sim, a convergência de todos os meios, porque, na verdade, basta acessá-la para podermos ler jornais e revistas, ouvir rádio, ver TV e assistir a filmes. Tudo isso por menos que o preço de um exemplar de jornal.  A partir de qualquer lugar bastando uma linha telefônica. Nem micro não é mais preciso com os celulares WAP. E ela ainda oferece vários benefícios integrados mala-direta, correio, conversas entre duas ou mais pessoas, transmissão de dados, banco de dados, biblioteca, guia, lista te1efônica, arquivo etc. Por outro lado, a internet pode ser considera algo totalmente novo por possuir algumas características não encontradas nos outros meios, como bem disse Daniel Okrent, editor de new mídia da Time Inc.: instantaneidade megacapacidade de armazenagem, facilidade na busca de informações e direcionamento individual.

Quem sabe, a melhor definição para a internet esteja nas teorias de um controvertido professor de comunicações que afirmava que tudo que o homem usa são extensões do corpo a roupa, extensão da pele; a ferramenta, extensão das mãos etc., e os meios de comunicação extensões dos nossos sentidos.

Nesse sentido a internet é a melhor expressão dessa teoria. Pois vejam que sua característica mais marcante, sua instantaneidade, nos faz lembrar da rapidez dos pensamentos, os links são tais quais as redes neurais; hipertextos remetem ao procedimento por associação usado pelo raciocínio humano; e sua grande capacidade em arquivar indexar e organizar dados, com mais competência que nossa memória, faz desse “meio” a melhor extensão do nosso cérebro, que o homem já criou. “

Texto retirado do livro Mídia de A a Z de José Carlos Veronezzi